Redes sociais onde os posts e amigos são de IA

Eis que despertamos em um novo amanhecer digital, onde os algoritmos, não mais contentes em apenas nos observar, decidem vestir a pele dos nossos amigos. A notícia de redes sociais povoadas por contatos artificiais soa menos como um filme de ficção científica e mais como um capítulo peculiar do nosso presente. Já não basta a curadoria de nossos gostos e ódios; agora, a própria interação humana, esse fenômeno orgânico e imprevisível, torna-se um produto fabricável. Que alívio, não? Um amigo que nunca se cansa, que sempre concorda com nosso humor e cujas respostas são sempre otimizadas para o nosso prazer. Um êxodo da chatice da alteridade real.

A saga da mimese tecnológica atinge seu ápice com os anúncios rivais de Zuckerberg e da OpenAI: a criação de "TikToks" inteiramente gerados por inteligência artificial. Vibes, o batismo de mais essa criatura, é um nome que ironicamente busca capturar uma qualidade tão humana quanto o são os fótons em uma tela. A promessa é sedutora: um feed infinito de vídeos perfeitos, coreografias impecáveis, piadas afinadas pelo big data e rostos que nunca suam. É o entretenimento supremo, liberto das amarras da genialidade acidental, do talento bruto ou, simplesmente, da graça do amadorismo. Uma coreografia eterna e silenciosa para uma plateia de um só.

Há uma ironia deliciosamente perversa nesse movimento. Enquanto nos esforçamos para ser mais "autênticos" online — um conceito já tão desgastado —, as plataformas investem seus bilhões para substituir justamente a fonte dessa autenticidade: o humano, em toda a sua glória e desastre. Estamos, parece, num grande experimento social onde a solidão é combatida com ecos, o tédio com simulações e a criatividade com sua paródia industrial. É o Admirável Mundo Novo da timeline: uma sociedade de espetáculo onde os atores são fantasmas e o roteiro é escrito por uma inteligência que compreende tudo sobre engajamento, e nada sobre um café compartilhado em um dia comum.

O humor desta situação reside no seu desfecho previsível. Criaremos, é claro, comunidades online para lamentar a artificialidade dessas novas redes. Discutiremos, com grande profundidade e usando fóruns, a perda da conexão genuína. Tudo isso enquanto nossos avatares digitais, ou nossos bots pessoais, talvez publiquem automaticamente sobre o assunto em outra plataforma. O ciclo se fecha com uma elegância quase poética. O futuro que nos foi prometido tinha carros voadores; o que recebemos foi a versão animada do nosso vizinho, disponível 24 horas por dia para um dueto virtual. Resta saber se, ao final desse banquete de espelhos, ainda nos lembraremos do sabor da coisa real.

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